A sua mente vagueia num
mar de preocupações? Então, preste atenção. Sim, literalmente prestar atenção
intencional no momento presente é um excelente exercício para melhorar o
autocontrole. Momento a momento os fluxos de pensamentos e sentimentos, sensações
e desejos, e processos conscientes e inconscientes vão esculpindo o nosso
sistema nervoso, como a água gradualmente esculpe sulcos numa encosta. O nosso
cérebro está continuamente mudando a sua própria estrutura. A única questão é: Para melhor ou para pior? Em particular, por
causa do que é chamado de “neuroplasticidade,” aquilo em que você foca a sua
atenção tem um poder especial para mudar o seu cérebro. Atenção é como uma
combinação de holofotes e aspirador de pó: A atenção ilumina tudo aquilo em que
você se focaliza e depois suga tudo para o seu cérebro.
AUTORREGULAÇÃO DA ATENÇÃO
Regular a sua atenção,
ser capaz de mantê-la onde você pretende que ela fique, e ser capaz de
colocá-la para longe do que é incômodo ou inútil (como um ciclo interminável de
preocupações ansiosas, ruminação mental ou autocrítica
negativa), é a base da mudança do seu cérebro, e portanto,
efetiva-se como um processo para mudar
a sua vida para melhor.
Para
obter um melhor controle de atenção, para tornarmo-nos mais conscientes e mais
capazes de concentrarmo-nos, precisamos superar alguns desafios. Para
sobreviver, os nossos ancestrais evoluíram aprendendo a monitorar continuamente
o ambiente ao seu redor para usufruírem de oportunidades e evitarem as ameaças.
Por exemplo, experiências perturbadoras (aquelas especialmente traumáticas)
treinam o cérebro para ser vigilante, para prestar atenção, procurando tudo o
que possa parecer ameaçador. E a cultura moderna fez-nos acostumar a um
constante processamento de estímulos, por isso nada menos que sensações como,
simplesmente respirar, podem parecer-nos insuficientes, chatas ou frustrantes.
Ainda que prestar atenção ao que nos pode magoar, prejudicar ou confirmar-se
como obstáculos possa ser benéfico, quando exacerbado e levado ao extremo,
certamente perde o seu valor adaptativo e torna-se num problema.
Para superar estes desafios, é útil cultivar
alguns fatores neuronais da atenção: Colocando conscientemente a atenção onde
nos parece ser útil. Como?
Você
pode usar um ou mais dos sete exercícios abaixo no início de qualquer
focalização deliberada da atenção, mantendo a mente num estímulo neutro,
como a respiração, a contemplação ou a meditação, para em seguida colocá-las em
segundo plano enquanto muda o seu foco para qualquer atividade que pretenda
realizar. Você também pode recorrer a um ou mais exercícios durante a sua
atividade escolhida, se sua atenção for perturbada ou perdida. Os exercícios
listados podem ser praticados na sequência que mais sentido fizer para você e
não necessariamente na que apresento.
1. Defina a intenção de manter a sua atenção
em algo, ficando atento. Você pode fazer isso
intencionalmente mantendo a sua atenção numa parte do corpo ou em alguma
sensação em particular, ou fazê-lo de forma mais plena e contemplativa,
observando o máximo de sensações corporais ou ficando ciente do máximo de
estímulos que o seu corpo lhe permite experimentar, num determinado momento.
Por exemplo, sons à sua volta, pontos de tensão no corpo, a deslocação do vento
no rosto, a pressão dos maxilares, o franzir da testa, o peso do corpo ao
caminhar, entre outros. Comece por focar a sua atenção em apenas um estímulo,
observe e experimente essas sensações e imagens. Em seguida, sem perder o foco
no primeiro, acrescente outro estímulo. Adicione tantos estímulos quantos
conseguir, sem perder o foco nos anteriores. Em seguida, de entre todos os
estímulos, escolha um ou dois em que quer sentir ou experimentar de forma mais
aprofundada. Neste última parte do exercício você treina a sua atenção plena,
percebendo, que é você que decide de entre todos os estímulos presentes qual
opta por observar mais detalhadamente.
2. Relaxe. Por exemplo, faça várias expirações, levando o dobro do tempo a
deitar o ar para fora, comparativamente ao tempo que leva a inspirar. Isso
estimula o relaxamento e a libertação da tensão, ativando a parte do sistema
nervoso que lhe permite ficar mais tranquilo (sistema nervoso
parassimpático).
3. Sem despender muito esforço, pense em
coisas que o ajudam a sentir-se bem, por exemplo, alguém para quem você é
importante, um relacionamento ou grupo em que é apreciado, ou até mesmo
valorizado e amado. Tudo bem se a relação
não é perfeita, ou se você traz à mente pessoas do passado. Você também pode
ter uma noção da sua própria boa vontade para os outros, a sua própria
compaixão, bondade e amor. Relembrando-se da sua ligação aos outros, ajuda-o a
sentir-se conectado e valorizado, trazendo gratificação para o momento
presente. Este exercício suporta os dois seguintes.
4. Pense em coisas que possam ajudá-lo a
sentir-se mais seguro. Portanto, escolha colocar a sua atenção em atividades
tranquilizantes, em vez de ativar a sua atenção vigilante. Perceba que você
está num ambiente relativamente seguro, munido de recursos que permitem que
seja capaz de lidar com o que a vida lhe apresenta. Deixe de lado qualquer
ansiedade irracional, qualquer vigilância desnecessária ou preocupação excessiva.
5. Gentilmente encoraje alguns sentimentos
positivos, mesmo que leves ou sutis. Por exemplo, pense em algo pelo qual se sinta satisfeito ou
grato. Por exemplo, ter amigos ou filhos, ter terminado o liceu ou a
licenciatura, ter boa saúde ou pessoas que cuidam de você, ter casa ou forma de
se abrigar, ou simplesmente estar vivo. Abra a sua mente para o sentimento
geral de bem-estar que pode, contudo, conter algumas perdas, lutas ou dor
emocional. A sensação de prazer ou recompensa de emoções positivas
aumentam alguns químicos circulante no sangue, como a dopamina, que promove a
sensação de bem-estar, satisfação e tranquilidade, fechando os canais neuronais
para quaisquer distrações invasivas.
6. Ter uma noção do corpo como um todo, as
muitas sensações, emoções e memórias que aparecem juntas a cada momento no
espaço ilimitado da consciência. Este sentir alargado de múltiplas coisas, (em que você pode usar
a experiência do exercício 1) em que o todo é maior que a soma das suas parte
(gestalt), percebidas dentro de uma perspectiva ampla e panorâmica, ativa as
redes neuronais responsáveis pela atenção sustentada. E desativa as redes
neuronais do cérebro que usamos quando estamos perdidos em pensamentos perturbadores. Por exemplo, relembre-se de
uma perda sem perder a noção do valor que você tem para alguém querido.
Relembre-se de algo em que teve de gastar muito dinheiro indevidamente, mas
igualmente de todo o dinheiro que já foi capaz de ganhar. Foque a sua atenção
num ponto de tensão ou dor física, mas igualmente na sua capacidade de relaxar
ou gerar boas sensações vindas dos cinco sentidos.
7.
Durante alguns minutos reviva mentalmente as experiências positivas escolhidas
ou lições que você aprendeu ou está aprendendo. É importante criar o hábito de
relembrar acontecimentos positivos, e conscientemente perceber o impacto que
isso tem no seu corpo e consequentemente no seu bem-estar geral. Uma vez que os
“neurônios que disparam juntos,
ligam-se juntos” você reforça assim os mecanismos da atenção
ligados à positividade e sensações corporais agradáveis e relaxantes.
Exercitar
a atenção colocando o seu foco intencionalmente em estímulos prazerosos, sejam
eles presentes ao seu redor ou imaginados, permite que você vá desenvolvendo a
capacidade de controlar a sua capacidade atencional. Este processo pode ser
vantajoso sempre que você está focado obsessivamente em algo que o perturba,
prejudica ou consome a sua concentração. Na presença de interferências,
ruminações ou preocupações irracionais ou excessivas, uma vez treinada a
capacidade atencional, você conseguirá orientá-la por ação do seu querer,
colocando-a onde importa que ela esteja.
Autor:
Miguel Lucas
Fonte:
escolapsicologia.com
Nenhum comentário:
Postar um comentário