Criticamos a sociedade, o sistema, as pessoas, o que está “normal”
e o que “não está normal”. Mas talvez, nunca paremos para refletir no quanto
nossas palavras marcam o desenvolvimento e porque não, a história das pessoas
que recebem diagnósticos psiquiátricos.
A psicologia, ao mesmo tempo em que está intrinsecamente ligada
à fisiologia e a medicina, deve estar um tanto distante, neste sentindo. Em
medicina, ao darmos um diagnóstico de câncer ao paciente, percebe-se uma
comoção em sua família, este recebe visita de amigos e familiares. Recebe-se
afeto. A rede social o ajuda.
Mas em psicologia ou psiquiatria, quando damos a um indivíduo
o diagnóstico de esquizofrenia, por exemplo? Percebemos que se volta à idade média, onde possuir
a sintomatologia deste transtorno tinha origens na demonologia. O indivíduo é
excluído de sua própria família, internado em um hospital psiquiátrico,
raramente recebe visita de amigos ou familiares. O indivíduo é taxado como “um esquizofrênico”.
Sua autoestima é colocada lá em baixo e este, já debilitado emocionalmente por
conta de seu sofrimento psíquico, sofre ainda mais por esta falta de apoio,
esta exclusão.
Sou um estudante de psicologia neste momento, mas percebo o
quanto o sofrimento mental é banalizado. Raramente ouço alguém falar que “está
com depressão”, e sim, “sou depressivo”. Acredito, que muito além de
classificar os sintomas de um paciente num quadro clínico, através de um
manual, a maneira de se informar um diagnóstico é um dos pontos-chave em nossa
profissão - assim como na psiquiatria -, para a evolução esperada de um
tratamento.
Em psicologia, estamos paulatinamente avançando para uma era
mais humanista. Não deixamos de lado os tais códigos que denominam os transtornos
psiquiátricos, ainda baseamo-nos em manuais diagnósticos. Mas estamos
tornando-nos menos empáticos em relação ao “rótulo-diagnóstico” que se colocava
uniformemente, há poucos anos atrás, sem se preocupar com o impacto na vida de
cada indivíduo que buscava saber o que o fazia estar em sofrimento.
Diagnosticar de forma que o indivíduo passe a achar que
aquele sofrimento “é ele” e, desta forma, mesmo que indiretamente, fazer
com que o mesmo denomine-se “eu sou depressivo”. Retira suas esperanças,
deixa-os com uma angústia profunda e recorrente de que o sofrimento é ele, e que
só com a morte terá fim.
Aos estudantes de psicologia, que dentro de seu curso acadêmico
nunca tocaram neste assunto, espero que este texto os faça refletir. Aos já graduados,
psicólogos ou psiquiatras, que fazem uso do diagnóstico, um rótulo, àqueles que
os buscam, repensem seus conceitos e sensibilizem-se com os mesmos.
Não tratamos órgãos, tratamos seres humanos.
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